A semeadura direta por meio da muvuca de sementes é usada pela primeira vez em Cunha-SP.

Nesse início de 2021, a SerrAcima está atuando em parceria com a Iniciativa Caminhos da Semente, para promover a restauração de 1 ha de Mata Atlântica por meio da semeadura direta, também conhecida por muvuca de sementes. Essa experiência faz parte do Projeto de Pesquisa FAPESP 2018/17044-4/Conexão Mata Atlântica, que tem como objetivo avaliar o crescimento de espécies florestais.
A recuperação da vegetação nativa, também chamada de restauração ecológica, é parte de uma estratégia regional de revitalização da bacia do Rio Paraíba do Sul que abastece os grandes centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro, bem como de uma estratégia global de combate à mudança climática e alcance dos demais objetivos da Agenda 2030. A SerrAcima, pioneira na recuperação de nascentes e no fomento à transição agroecológica no município, traz agora para Cunha esse novo método de restauração ecológica – a muvuca de sementes.

Sementes antes de serem misturadas para formar a muvuca, na sede da Serracima,

Segundo a Iniciativa Caminhos da Semente, a semeadura direta consiste no plantio de sementes com diversos ciclos de vida em altas densidades, de modo a desencadear o processo de sucessão ecológica. Além de contribuir com serviços ecossistêmicos, esse método de restauração é inclusivo e gera benefícios sociais, econômicos e culturais ao agregar conhecimento e mão – de- obra locais. Além disso, fomenta uma cadeia de coletores de sementes muitas vezes protagonizada por povos indígenas, quilombolas e agricultores familiares que comercializam essas sementes para os projetos de restauração.
Essa parceria possibilitou o plantio de 71 kg de sementes de 93 diferentes espécies como as florestais, Ipê, Jacarandá, Jatobá, Tingui, Suinã, Guapuruvu. Além de sementes de ciclos anuais e de adubação verde, como a crotalária, a mamona, a abóbora, o feijão de porco e o guandú.
O contexto em que a muvuca foi utilizada em Cunha mereceu um cuidado especial em relação ao sistema de plantio. “Por serem áreas com grande declive, em encostas de morros, escolhemos utilizar o sistema de semeadura direta em covetas com espaçamento 1,0m x 1,0m”, diz a Tecnóloga em Agroecologia, Marccella L. Berte, responsável pela execução técnica do projeto no município. Para o preparo do solo, a SerrAcima recrutou e treinou uma equipe de trabalho de moradores do município que nunca haviam trabalhado em projetos de restauração como esse. A participação das/dos proprietárias/os das áreas, seja na realização dos plantios ou com contrapartidas em oferta de alimentação e pagamento de mão de obra,foi fundamental para viabilizar o projeto.

As ações em campo contaram com a colaboração de voluntárias como Claudia Riquelme, para quem a muvuca de sementes é linda e perfumada, algo que ela nunca tinha visto antes. “Foi muito emocionante e incrível”.
Em Campos Novos, no sítio Nossa Senhora da Aparecida, os agricultores familiares Maria Helena Amorim e Joaquim Jacinto de Amorim sonham em fazer a água brotar novamente de uma grota. Mesmo com a restauração da nascente em curso, já cercada e em processo de regeneração natural eles decidiram restaurar a área de contribuição para aumentar a capacidade de infiltração de água da chuva. A muvuca foi plantada numa área de 3.240m² e parte da contrapartida de Maria e Joaquim foi o cercamento da área, que fica acima da nascente onde antes era pastagem.
No Bairro Santa Cruz, Fernanda Carvalho deu início à restauração ecológica de 6.260m² do sítio Terra Lila. A muvuca de sementes foi implantada em uma encosta de morro para controlar uma erosão que contribui para o assoreamento do Rio Jacuizinho. Sua intenção é ampliar essas ações, em parceria com a SerrAcima e com a comunidade, contribuindo para a revitalização da bacia do Jacuí.

O projeto continua, mas já temos muito para comemorar. Concordamos com Giovana Paula de Oliveira Pereira, voluntária no plantio de muvuca, para quem “a população deveria se voluntariar, pois [esse projeto] só irá trazer coisas boas pra cidade e pra gente também”. Esperamos, junto com Tarcísio Rabelo da Silva – que disponibilizou 500m² de sua pequena propriedade urbana para a restauração ecológica – que mais pessoas estejam interessadas em ampliar ações como essa, que melhoram a qualidade ambiental e contribuem para o bem estar coletivo.