Práticas agroecológicas 05: SEMENTES CRIOULAS

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As sementes crioulas são importantes para a segurança e soberania alimentar dos povos. Porém fora quase abandonadas ao esquecimento diante da substituição pelas sementes híbridas. Os transgênicos são uma ameaça ainda maior às sementes crioulas, contaminando-as com genes de outras espécies ou outros seres. A morte das sementes crioulas e uma ameaça à segurança alimentar, ficando a humanidade à mercê dos interesses de algumas poucas corporações multinacionais.

A serra Acima faz trabalho de resgate seleção e reprodução de sementes junto às famílias nos Bairros. Estas sementes e variedades crioulas são mais resistentes porque estão adaptadas ao ambiente e tem um custo muito baixo.

As famílias de agricultores adotavam a seleção massal, que é a escolha das melhores plantas, frutos, e também os melhores entre os animais. Realizavam também trocas de mudas, sementes ou animais reprodutores. Essas práticas eram uma condição fundamental no melhoramento das espécies ou variedades de plantas e raças de animais. Quando um agricultor ou uma agricultora doa uma semente ou faz uma troca percebe-se um sentimento de realização, felicidade e expectativa em ambas as partes. Essa prática é cultural e faz parte da condição do “ser camponês”.

Alicerçada nessas práticas a humanidade produziu e se alimentou por mais de 10.000 anos. E, em apenas pouco mais de 50 anos a produção de alimentos sofreu grandes transformações. O modelo industrial agroquímico aplicado no campo negou essas práticas populares de manutenção e melhoramento das espécies e raças classificando-as como atrasadas.

Sim, a nova ciência e tecnologia proporcionaram muitos avanços na área do melhoramento, mas teve um efeito negativo em relação à continuidade das espécies ou raças, e ao negar a pratica acima mencionada criou-se alguns sérios problemas:

  1. Redução drástica na base alimentar dos povos: existem mais de 10.000 espécies de plantas comestíveis – os povos primitivos se alimentavam de 1.500 a 3.000 espécies – a agricultura antiga produzia com base em mais de 500 espécies – a agricultura industrial restringiu a base da nossa alimentação a 9 (nove) espécies, que são aquelas que dão mais lucro ao mercado. O trigo, arroz, milho e soja representam 85% do consumo de grãos no mundo.
  2. Crescente deficiência nutricional na alimentação humana: isso é conseqüência direta da redução de diversidade alimentar e também essas espécies oferecidas pelo mercado são pobres em muitos minerais e proteínas.
  3. Redução da biodiversidade: muitas espécies e variedades já se perderam e as monoculturas vão tomando conta do campo. Há também uma perda da diversidade genética e as plantas vão se tornando cada vez mais susceptíveis à pragas e doenças. A perda da diversidade desequilibra os sistemas tanto so sistemas naturais como os cultivados.
  4. Crescente dependência de grande corporações empresariais: Algumas poucas empresas querem dominar a produção e distribuição de alimentos no mundo. Estamos cada vez mais dependentes dessas empresas para nos alimentarmos e, portanto sujeitos às suas decisões quanto ao que devemos comer e quanto devemos pagar por isso. A ofensiva dos transgênicos é parte dessa estratégia de controle e dominação.

As sementes não podem ser privatizadas ou contaminadas com genes estranhos à espécie como nos transgênicos, e nem tornar-se objeto de dominação dos povos por parte de corporações empresariais.

As sementes são patrimônio da humanidade, pois são um legado de nossos antepassados. Tão importantes para a existência humana que são constantemente celebradas e consagradas.

Uma grande quantidade de espécies que usamos na nossa alimentação é nativa das Américas e foram deixadas pelos indígenas (Astecas, Maias, Incas e outros) como por exemplo:  milho, batata, mandioca, feijão, algodão tomate, pimenta, amendoim, cacau, abobora e outros. Outras foram trazidas de outros continentes, como o trigo e o arroz, mas já por centenas de anos são conservadas e melhoradas pelas famílias agricultoras. Essas sementes que são conservadas e melhoradas pelas famílias de agricultores são chamadas de sementes crioulas.

A disponibilidade e continuidade dessas sementes é virtude e missão da agricultura familiar/ camponesa e não depende de nenhuma empresa ou país e, são fundamentais para a garantia de segurança e soberania alimentar dos povos. As sementes crioulas são adaptadas aos ambientes locais, portanto mais resistentes, e menos dependentes de insumos. São também a garantia da diversidade alimentar e contribuem com a biodiversidade dentro dos sistemas de produção. A biodiversidade é a base para a sustentabilidade dos ecossistemas (sistemas naturais) e também dos agroecossistemas (sistemas cultivados).

O futuro pertence àqueles que conservam e multiplicam as sementes crioulas.