A riqueza das trocas na IV Feira de Trocas de Sementes Crioulas e Mudas de Cunha e região

Dias 15 e 16 de novembro foram muito especiais para agricultores e agricultoras familiares, assentados e assentadas, quilombolas, lideranças comunitários, indígenas, educadores, gestores públicos, pesquisadores, conselheiros, entidades de assessoria e a equipe da ONG SerrAcima. Com uma programação que incluía rodas de diálogos, visitas às roças dos agricultores e agricultoras familiares, oficinas e uma programação cultural que contou com a presença da Congada Cia de São Benedito – Sertão de Santa Barbara de Cunha, Luis Perequê, o Grupo Paranga e Noel Andrade, o Coral Kaaguy hovy do povo Guarani da Aldeia Araponga, Maracatu Palmeira Imperial e o Jongo do Campinho, foi apresentada a riqueza que as sementes são capazes de produzir no campo, na mesa e no palco.

Foto: Eduardo Di Napoli ©

Agenda cheia

Trocas e articulações deram o tom da IV Feira de Trocas de Sementes Crioulas e Mudas de Cunha e região. Com o cortejo da Congada Cia de São Benedito – Sertão de Santa Barbara de Cunha, a abertura realizada pelo Grupo de Agricultores Familiares Agroecológicos de Cunha e SerrAcima no Centro Cultural Elias José Abdala, contou com as presenças de representantes da Fiocruz, Fórum de Comunidades Tradicionais Indígenas, Quilombolas e Caiçaras de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba, ASPTA e a Secretaria Executiva da Articulação Nacional de Agroecologia, onde se debateu a importância, os avanços e desafios da diversidade de processos nos diferentes territórios e em nível nacional que envolvem a agroecologia. Sendo exaltada a importância de a feira trazer para o centro do debate a importância de valorizar, resgatar e multiplicar as sementes crioulas e o conhecimento e organização popular. Uma das idealizadoras e fundadoras da organização não-governamental SerrAcima, Dulce Maia, contou sobre a alegria de ver um “sonho ampliado” com a presença das 300 pessoas que se inscreveram para participar do evento.

Nas rodas de diálogos realizadas no sábado a tarde, foram apresentadas nove experiências que constroem e fortalecem territórios sustentáveis com base na agroecologia, soberania e segurança alimentar de diferentes origens. Para o assessor técnico da ASPTA – Agricultura Familiar e Agroecologia do Programa de Contestado, André Emílio Jantara, os encontros são fundamentais. Para André, cada intercâmbio, cada oficina “é onde está o nosso tesouro”, avaliou. E tesouros foram apresentados como a importância do papel de guardiões das sementes exercido pelas famílias ao longo do tempo e a preocupação com da manutenção de práticas de multiplicação e armazenamento destas sementes na garantia da biodiversidade e da vida. Questões como processos de certificação participativa, de transição dos sistemas produtivos para agroecologia, organização, comercialização, recursos genéticos, políticas públicas, soberania e segurança alimentar foram temas apresentados e debatidos.

A preocupação em oferecer a alimentação da “IV Feira de Trocas de Sementes Crioulas e Mudas de Cunha e Região” a partir da produção e preparo de alimentos pelas famílias agricultoras foi outro diferencial. Tanto no “Café da Roça” que abriu os trabalhos das rodas de diálogos, como as comidinhas das barracas da programação cultural de sábado a noite e o lanche de domingo, foram produzidos pelas famílias agricultoras de Cunha e Ubatumirim e preparados por grupos de mulheres agricultoras das comunidades de Vargem Grande em Cunha. Pãezinhos de ervas, beterrabas, cenouras, pães de ló, bolos de fubá, bolos de pinhão, sucos de amora e juçara, compuseram a mesa oferecida aos participantes que descobriram os sabores da produção da agroecologia em todo o processo de feitura dos alimentos.

Foto: Eduardo Di Napoli ©

Na Praça da Matriz no sábado a noite, foram projetadas imagens captadas no trabalho desenvolvido com base na agroecologia na parceria entre famílias agricultoras de Cunha, Silveiras e Lagoinha e SerrAcima. Muitos agricultores como Jairo dos Santos, corriam risco de vida por utilizarem agrotóxicos por tantos anos em suas propriedades, e agora voltaram a ver a terra e a sua saúde recuperadas. Na festa de sábado a noite houve o lançamento da campanha “Preservar é Resistir” com a exibição do vídeo e as manifestações do Cacique Agostinho da Aldeia Araponga, do caiçara Robson Possidônio da praia de Trindade e da quilombola Laura Santos, integrantes do Fórum de Comunidades Tradicionais Indígenas, Quilombolas e Caiçaras de Angra dos Reis, Paraty e Ubatuba. Após a apresentação do coral guarani Kaaguy hovy, Luis Perequê, o violeiro Noel Andrade e o grupo Paranga cantaram as canções com cheiro de terra e chuva.

Agroecologia é vida
As visitas às propriedades das famílias agroecológicas de Cunha foi um momento muito importante da IV Feira de Trocas de Sementes Crioulas e Mudas de Cunha e região. Nas primeiras horas de domingo, ônibus levaram os participantes para visitas a experiências agroecológicas de cinco famílias onde foram vistas na prática experiências diversas como a produção agroecológica de alimentos, organização da propriedade, sistemas agroflorestais, biofossas, pecuária agroecológica realizadas pelas famílias em parceria com SerrAcima. No campo era realizada a Oficina “Multiplicação e armazenamento de sementes crioulas” na propriedade da família de Rosana e Hailton Pereira, na cidade, três oficinas tratavam de “Hortaliças não convencionais”, “Homeopatia na Agroecologia” e “Mulheres e Agroecologia”, continuando assim o esforço dos organizadores em debater temas vitais e sutis para a Agroecologia.

Foto: Eduardo Di Napoli ©

Na tarde de domingo, o ponto alto do evento: a troca de sementes crioulas e mudas contou com mais de 100 espécies e variedades trocadas das diferentes localidades e grupos presentes e chegaram a circular cerca de 500 pessoas, aberta com a apresentação do trabalho das crianças que aconteceu ao longo das atividades, foi mais um momento de legitimar e fortalecer as experiências agroecológicas, de soberania e segurança alimentar da região e de partilhá-las com a sociedade. A tarde os tambores do Maracatu Palmeira Imperial de Paraty tomaram o espaço da Praça da Matriz. Fechando toda essa intensa programação o Jongo do Quilombo do Campinho da Independência cantou seus pontos e a dança trouxe o descanso e a tranquilidade para os participantes voltarem para suas comunidades. Para Luana Carvalho, coordenadora da ONG SerrAcima, a IV Feira de Trocas de Sementes Crioulas e Mudas de Cunha e região foi um “importante momento de trocar saberes, experiências e fortalecer a construção coletiva. Ao longo de toda a construção da feira os diálogos estabelecidos fortaleceram as parcerias e experiências mobilizadas, mais um passo na articulação e fortalecimento da agroecologia e dos atores sociais envolvidos neste processo de construção. Oportunidade de sensibilizar novas famílias, valorizar e ampliar as experiências agroecológicas e de organização social na região, dando visibilidade a todo este trabalho tanto no campo como na cidade.”

Foto: Eduardo Di Napoli ©

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